quarta-feira, 30 de maio de 2012

Dias e dias e dias


Há dias em que a cabeça
E tudo o que está dentro dela
Pesa muito, há dias e dias e dias...
Em que o meu eu fica preso dentro
Do meu corpo, embrulhado em
Várias voltas de película aderente
Em que a boca me pesa e não sai
Nada, a não ser ar às golfadas
Há dias que as palavras não vêm
Em que os meus músculos se
Contraem de tal forma,
Que sorrir é uma guerra de
Contorcionismo durante horas a fio
Há dias e dias e dias em que
A cabeça lateja ao mesmo
Tempo que o coração se contrai
Como se o mesmo músculo
Fizesse funcionar os dois ao mesmo
Tempo. Um bombeia o sangue e
Outro dores no mesmo compasso
Há dias em que os meus sentimentos
E tudo o que advém deles
Me esmagam, há dias, dias e dias
Em que ficam presos dentro
De sacos de plástico a vácuo
Em que a minha alma é dormente 
Não é infelicidade, pressão,
Defeitos ou depressão, é feitio
Este que me foi dado
E que construí e desconstruí sempre
Que teve de ser, com a alma dorida
Sem dores, com dores, sem membros
Ou com demasiados sentimentos.
Aqui estou eu, despojada de mim
Própria, à mercê de uma cabeça
E de um coração
Que poucas ou nenhumas vezes
Se conheceram nesta vida
Mesmo nos dias e dias e dias
Em que o meu eu fica preso dentro
Do meu corpo, embrulhado em
Várias voltas de película aderente
Em que a boca me pesa e não sai
Nada, a não ser ar às golfadas.
Dias e dias e dias.