Gosto muito disto.
(...)
Por vezes não há meio de percebermos o carácter de uma pessoa, mas basta ela rir para lhe conhecermos o feitio como às palmas das nossas mãos. Só as pessoas desenvolvidas do modo mais elevado e feliz sabem ser contagiosamente alegres, de uma maneira irresistível e benévola. Não falo de desenvolvimento intelectual, mas de carácter, do homem como um todo. Portanto: se quiserdes compreender uma pessoa e conhecer-lhe a alma não presteis atenção à sua maneira de se calar, ou de falar, ou de chorar, ou de se emocionar com as ideias mais nobres, olhai antes para ela quando se ri. Ri-se bem - é boa pessoa.
Observai depois todos os matizes: por exemplo, é preciso que o riso não pareça estúpido, por mais alegre e ingénuo que seja. Mal detecteis a mais pequena nota de estupidez num riso, ficai sabendo que a pessoa que assim ri é intelectualmente limitada, apesar de deitar cá para fora um sem-fim de ideias. Mesmo que o riso não seja estúpido, se vos parecer ridículo, nem que seja um pouquinho, ficai sabendo que não há na pessoa que o ri uma verdadeira dignidade, pelo menos uma dignidade suficiente. Por último, notai que, mesmo que um riso seja contagioso mas por qualquer razão vos pareça vulgar, também a natureza dessa pessoa é vulgar, que toda a nobreza e espírito sublime que tínheis visto nela ou são fingidos ou imitados inconscientemente, e que essa pessoa, no futuro, mudará inevitavelmente para pior, dedicar-se-á ao «útil», abandonando sem pena as ideias nobres como sendo erros e paixões da juventude.
(...)
Fiodor Dostoievski
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013
terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
Ai Senhores
Ai senhores, que me faltam
as palavras
Que isto nunca aconteceu
antes
Ai senhores, não sei que
fazer
Que isto nunca aconteceu
antes
Não ter que dizer, a falta
de assunto
Não, não me façam falar sobre o tempo
Sobre o mexilhão que se lixa sempre
E agora como é que vou
fazer?
Tenho dado por mim calada, introspectiva
Só penso em poesia e em histórias
bonitas
Em histórias esquisitas,
E se o que me sair da boca não
for poesia
Calo-me,
Se o que sair do meu corpo não for dança
Paro.
Mas as palavras, e as
palavras?
Há dias que até tenho dado
por falta da voz
Outros em que a voz se
enferruja
De tantas horas calada
Ai senhores, ai senhores
Isto é de grande aflição
Pouco mais sei fazer que
falar
Do que fazer rir com as
palavras absurdas
Leio, leio muito para que não
me falte
Vocabulário, não vá o meu cérebro
Ter-se fartado do que tenho.
Será que é
um castigo, isto agora de ser
calada
E a concentração em que dou por mim?
Só mais motivo de preocupação.
E pergunto-me: quem és tu?
Ai senhores, acho que estou
a ficar
Ai, como é que se diz... Aquela
palavra...
A... Adulta. Passa ao próximo
e não ao mesmo.
Vai de retro, vai
só...
E o silêncio volta
..................................................................................
(Ouve-se o vento soprar)
..................................................................................
Este silêncio
Atira-se a mim como um cão raivoso
Com ordem para matar
Ai senhores, as minhas
palavras
Estão-me a ser arrancadas
uma a uma
Numa espécie de malmequer
bem-me-quer
Ai senhores e eu?
Eu que só penso em poesia e em histórias
bonitas
Em histórias esquisitas,
E se o que me sair da boca não
for poesia
Calo-me,
Se o que sair do meu corpo não
for dança
Paro.
Senhores, senhores.
Subscrever:
Mensagens (Atom)