terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Meu amor vou sair

Meu amor vou sair
Vou ali já venho
Sinto-me a cair
Não sei o que tenho

Perdoa-me esta dor que trago
Preciso de apanhar ar
Devorar um cigarro
Sim, voltei a fumar

Ainda não me decidi
Nem sabes como é bom
Nestas horas olhar para ti
É que me dói aqui

E se eu naufragar
Podes-me ir buscar
Lá em baixo ao fundo do mar?
Sou fraca a nadar

Nestas ondas que se agitam
No meu peito
Que comigo coabitam
E que não me têm respeito

Meu amor vou sair
A algum sítio hei-de ir
Só preciso de apanhar ar
E recomeçar a fumar

Estou tão consumida
Se estiveres quando voltar
Dou-te a minha vida
Bonita e pronta a emoldurar

Perdoa a minha negatividade
Passará com a idade
E o meu cansaço
Esse, passa com um abraço

Tapo os ouvidos
E sinto a minha voz falhar  
Não quero amigos
Porque hoje quero duvidar

Duvidar do que dizem
Não pode ser verdade
E depois contradizem e
Maldizem e bendizem

É tarde

Perdoa-me esta dor que trago
Preciso de apanhar ar
Devorar um cigarro
Recomeçar a fumar

Esta dor
Podia ter ficado pelo caminho
Seria suficiente o teu amor.
E se a matássemos num copo de vinho?

Meu amor,
É tarde

Preciso de apanhar ar
Devorar um cigarro
Recomeçar a fumar.  

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

A Passagem das Horas

A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair
Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas,
E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos,
Entre tombos, e perigos e ausência de amanhãs,

Álvaro de Campos

Alguém que me pare os relógios agora

Sei que não sou uma pessoa fácil na maior parte do tempo
Acredito que possa compensar com algumas qualidades
Esse lado.

As pessoas fáceis não têm tanta piada, pois não?
Às vezes sei que é duro, não sou eu, é a vida.
A vida é tão difícil e eu esforço-me continuamente.

Gosto de saber que estás aqui, que estás por perto
A vida é menos dura contigo aqui.
Já não preciso de me esforçar tanto, de me explicar

Coloco o meu melhor perfume antes de chegares
O meu vestido preferido e o batom que mais gosto
E fico à tua espera com a mesma ansiedade de sempre

E abraças-me e eu abraço-te,
Alguém que me pare os relógios agora
E sinto-me amada
A sensação de reconforto na alma
É como beber um chá quente num dia muito frio
A mesma sensação
Onde é que estiveste este tempo todo?

Tudo me faz muito mais sentido agora, tudo é melhor
E podemos ficar o dia todo em casa, de pijama.
Eu não me importo. Também podemos apanhar um avião

Podemos fazer o que quiseres, olhar um para o outro
Sem dizer nada, sem fazer nada. Não é preciso mais
Bastas-me. Desde que estejas por perto.

Faço o teu prato favorito e ponho uma mesa bonita
Aguardo com a mesma ansiedade de sempre para saber
Se gostas. Sorrio e a minha refeição segue feliz.

És tu que tornas isto possível, que me fazes feliz
Não há outra vida que queira, se não a minha
E estás a sempre na minha cabeça e em tudo o que faço

E abraças-me e eu abraço-te,
Alguém que me pare os relógios agora
E sinto-me amada
A sensação de reconforto na alma
É como beber um chá quente num dia muito frio
A mesma sensação
Onde é que estiveste este tempo todo?

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Insegurança

A Insegurança tem a capacidade de transformar pessoas em verdadeiros monstros. Esse é um caminho sem retorno. Tenho dito.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Fotografa-me a juventude
Fá-lo agora, antes que ela possa partir
Esta não será sempre a minha cara
Terei outras
Sei como estou, não sei para onde vou
Fotografa-me de qualquer maneira
Sem poses, sem adereços
Só assim, vai tirando
Porquê?
Porque quero recordar-me de mim
Quero recordar-me naqueles dias
Em que já me tiver esquecido do que fui
Em que a minha pele já não for firme
E eu estiver deprimida com isso
Sim, eu não vou gostar
Segura-me a juventude que me resta
Antes que possa partir
Prende-a nessa fotografia
Mais tarde vou gostar de ver
Perceber que me queixei inutilmente
De tudo o que estava no sítio
Mas que eu não percebia
Sim, pode ser a preto e branco
A cores, como quiseres
Não me interessa.
Podes baixar a música?
Obrigada. É que não tenho uma cabeça
Tenho um tambor no seu lugar
Tenta fazer com que não se perceba nessa
Fotografia. Não me importo de não ficar
Bem, mas a cabeça de tambor é que não.

Preciso de dormir um bocado
Não me acordes
Mas fica à vontade, podes continuar
Com as fotografias, se quiseres.
Acho que a dormir também se consegue
Ver a juventude, não consegue?
Está bem, faz com entenderes.


A mulher do vestido preto.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O Grilo


Não vou correr mais atrás, nem pedir, nem esbracejar. Não tenho necessidade. Não preciso de mendigar nenhum tipo de sentimento, a nada, a ninguém. Não tenho necessidade. Nem mesmo que fossem sentimentos de compreensão que tantas vezes me foram negados, mas está tudo bem, porque já não tenho necessidade. É importante ouvir as pessoas, deixá-las existir e acima de tudo respeitá-las. Já não correrei mais pela aprovação, pela necessidade de fazer pelos outros aquilo que eles não querem fazer e não conseguem sozinhos. Gosto de pessoas, intrigam-me, e quanto mais as observo, mais me intrigam e morrerei intrigada. Na maior parte das vezes, comportam-se de maneiras esquisitas, e aquela necessidade constante de satisfação do próprio ego e da imagem que passa para fora, acaba comigo. Não há necessidade. Perde-se tanto tempo e energia com explicações, com necessidade de aprovação, em tentar ser e não a viver. Não vale a pena explicar o que está diante de cada um, mas que não conseguem atingir. Ter olhos que vêem bem não chega, saber umas palavras de cor e ter uma acção ensaiada para casa situação também não. No meu caso, passei a acreditar na consciência, aquela coisa que existe em cada um. O grilo.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Ai, se me dói

E custa-me saber que as pessoas
Não têm motivos para sorrir
Nada em que acreditar
Que o último sonho
Morreu há mais de uma década
E o cinzentismo as abraçou.
Dói-me a falta de esperança alheia
A nuvem negra que lhes paira
Constantemente no cimo da cabeça

As caras fechadas
Consumidas num emaranhado
De dúvidas e de crenças perdidas
Os dentes que só aparecem
Quando são escovados
O olhar de peixe morto, embaciado
Com um constante lacrimejar
Ai, se me dói
Ai, se me consome a mim a tristeza

A tristeza que não é minha
Mas que se pega como doença
De um século antigo
À velocidade de um rastilho
Aquele desalento desfeito a flutuar
Como se fossem partículas de pó
Ao sol, partículas de pó ao sol
Aquele marasmo inerte
Faz-me doer os órgãos

A crítica, a insatisfação constante
As palavras amargas que só servem
Para queimar a pele, os ouvidos
E custa-me saber que elas andam
Entre nós, estas pessoas
Esta espécie de mortos-vivos
Carcomidos pelo vazio, por um
Grande nada, que se alimenta
De tudo o que é mau

Ai, se me dói
Ai, se me consome a mim a tristeza
A nuvem negra que lhes paira
Constantemente no cimo da cabeça
O olhar de peixe morto, embaciado
Como se fossem partículas de pó
...Para queimar a pele, os ouvidos
Esta espécie de mortos-vivos
Ai, se me dói

E desejava quando era criança
Nunca vir a ser como eles

Mas não consigo ficar indiferente
Porque me dói
Ai, se me dói