Fazes-me mal
E eu caio, caio
vertiginosamente
Não fui eu que comecei o
fogo
Sou de fácil combustão
Só queria o calor
Acabo a varrer as cinzas
Para um monte
Com os olhos a arder
Despejo-as na sanita
Em breve chegarão ao mar
E tudo será melhor
Tenho a certeza
Não fui eu que comecei o
fogo
Mas gostei de o sentir tão
perto
Todo o meu corpo
Iluminado por aquela luz
Cor-de-laranja
A alma em labaredas
As palavras como acendalhas
As minhas mãos como fagulhas
E o olhar fez-se num clarão
Não chamem ninguém
Não fui eu que comecei o
fogo
Mas quero vê-lo arder
E a parte final é tão bonita
A intermitência do calor, da
luz
Sei que sou altamente
inflamável
Só queria que tudo fosse
especial
Que eu fosse especial
Que o meu sangue não fosse
lava
O meu coração uma bomba-relógio
A minha cabeça um garrafão
de gasolina
Que o fogo não deixasse
cinzas
Nem marcas profundas
Na alma que se fez em
labaredas
As palavras em acendalhas
E as minhas mãos como
fagulhas
Tudo em mim é inflamável
Piora em dias de vento e
calor
E continuarei sempre a arder
Fazes-me mal
E eu caio, caio
vertiginosamente
Não fui eu que comecei o
fogo.