Olho
para a minha sombra no chão e a tua não está lá,
Não
está em lado nenhum.
Sei porquê.
Sei porquê.
Não
quer dizer que custe menos.
Ou não se perpetuem os meus ais
Perco-me
neste corpo eléctrico
Há muito preso por um fio
Apenas a minha perna está presa a esse fio
Balanço-me como uma acrobata, faço graças
Procuro-te nos restos da minha sanidade mental
Há muito preso por um fio
Apenas a minha perna está presa a esse fio
Balanço-me como uma acrobata, faço graças
Procuro-te nos restos da minha sanidade mental
A me foge por entre os dedos como areia
Sinto
a língua áspera e as palavras gastas
Como uma manhã que precisa de um novo fôlego
Como uma manhã que precisa de um novo fôlego
Encontro-te entre golfadas de ar
Fazem-me hiperventilar
Contorço-me
como um peixe fora da água
Tentando manter a dignidade
Presa por aquele fio
Nada vai fazer com que deixe de ver a tua sombra
Tentando manter a dignidade
Presa por aquele fio
Nada vai fazer com que deixe de ver a tua sombra
E mesmo que custasse menos
As
explicações são para quem precisa delas
Para quem tem de fazer sentido
Para quem tem de fazer sentido
Eu que só sei sentir,
Com os olhos, com o cabelo desalinhado
Por entre os pontapés que te dou
Com o suor frio das mãos
Procuro-te
Não quer dizer que custe menos
Com o suor frio das mãos
Procuro-te
Não quer dizer que custe menos
E
é sempre atrás da graça que disfarço
A planta dos pés magoada
A planta dos pés magoada
Que
me encolho para que ninguém veja
Enquanto meu corpo se balança preso por um fio
Se enrola à volta da minha perna
Como uma serpente
Enquanto meu corpo se balança preso por um fio
Se enrola à volta da minha perna
Como uma serpente
Fico a contemplar as auras amorfas
Antigas e de palavras gastas.
Um
dia a melancolia vai florir no meu coração
Subir pela minha perna como um feijoeiro
Levar-me muito longe
Levar-me muito longe
Terei
uma primavera só para mim
A
minha cabeça será um campo de tulipas
Da minha boca sairão borboletas coloridas
Os meus braços serão ramos com folhas verdes
E flores, tantas flores e pássaros
E flores, tantas flores e pássaros
Os pássaros cantarão presos nos meus cabelos
Hão-de alimentar-se do modo peixe fora de água
Em
que me sinto na maior parte das vezes
Comerão maçãs vermelhas, as mais brilhantes
Comerão maçãs vermelhas, as mais brilhantes
Que nascerão a cada novo ataque de pânico
E continuo à tua procura, da tua sombra
À noite acendo um fósforo, presa por um fio
E continuo à tua procura, da tua sombra
À noite acendo um fósforo, presa por um fio
Assim sei que posso olhar para a minha sombra no chão
E ver se a tua está lá.
E ver se a tua está lá.