segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Alvorada

Consigo ver o mar
Quando as noites não são maiores
Do que os dias

Consigo ver o mar
Quando a água não me fere os olhos
O sol me queima a ponta dos dedos

Consigo sentir a aurora
Quando o frio não me corrói os lábios
E o medo, a alma

Consigo sentir a alvorada a fugir-me
Entre os fios de cabelos
Entrelaçados pelo vento

Consigo ver o mar
Sentir a espuma
Ouvir os peixes nos seus afazeres

Cardumes que se cruzam com outros
Ao ritmo
Do bater do coração

Consigo ver o mar
Quando as noites não são maiores
Do que os dias

Consigo sê-lo
A bater contra a areia, rochas
Falésias. Zangada, alvoraçada

Consigo sê-lo
Arrastar tudo comigo para o fundo
Para depois flutuar em paz

Sinto o cheiro da maresia fria
Entrar-me pelo nariz
Como se inspirasse pedaços de vidro

Ergo a mão para o sol
Faço-o descer. Faço voltar a noite
Enquanto me afogo num pranto

Presa nas redes de um cérebro atordido
Cansada das marés
Demasiado cheias ou vazias

Consigo sentir a alvorada a fugir-me
Enquanto tento ficar
Segurar-me ao que a aurora me traz

E acima de tudo me leva
Sei que mesmo de olhos fechados
Consigo ver o mar

sábado, 2 de novembro de 2013

Descobri que gosto de correr sozinha. É. Aliás, gosto de fazer muitas coisas sozinha. Deve ser por ter sido filha única durante tanto tempo. Habituei-me. Gosto de correr sozinha porque posso parar para apertar um dos ténis, perceber que o cheiro daqueles eucaliptos a entrar-me pelos pulmões, me está a fazer lembrar de quando era criança e andava nos escuteiros. Senti a mesma euforia. A mesma sensa...ção de liberdade. Sim, eu andei nos escuteiros. Todos nós temos o nosso passado. Os escuteiros até estão no top five das coisas consideradas “cool” que fiz. Terminar de apertar o ténis e continuar à frente. Faça o que fizer sou sempre eu a liderar a corrida. Então gosto, gosto de correr sozinha. Não vai ninguém à minha frente. Primeiras. Espero não ter comido um ovo pouco fresco, espero que as validades não sejam mesmo, mesmo para respeitar e que um mês num ovo não seja assim muito tempo para um ovo. É. Também faço muitas coisas parvas sozinha.
Ganhei por três anos seguidos, 12, 13 e 14 anos o concurso de Halloween na minha escola. Isto podia ser uma coisa fixe. Mas eu sei que não ia assim tão mascarada. A natureza nessa altura era muito minha amiga... A minha avó adorava contribuir de forma generosa com roupas feitas por ela. Unhacas pretas de plástico. A vassoura handmade. A peruca não precisava. O meu cabelo fazia um sucesso incrível nesta altura do ano. No fundo, desejava que todos os dias do ano fossem halloween. Eu era imbatível.