segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Alvorada

Consigo ver o mar
Quando as noites não são maiores
Do que os dias

Consigo ver o mar
Quando a água não me fere os olhos
O sol me queima a ponta dos dedos

Consigo sentir a aurora
Quando o frio não me corrói os lábios
E o medo, a alma

Consigo sentir a alvorada a fugir-me
Entre os fios de cabelos
Entrelaçados pelo vento

Consigo ver o mar
Sentir a espuma
Ouvir os peixes nos seus afazeres

Cardumes que se cruzam com outros
Ao ritmo
Do bater do coração

Consigo ver o mar
Quando as noites não são maiores
Do que os dias

Consigo sê-lo
A bater contra a areia, rochas
Falésias. Zangada, alvoraçada

Consigo sê-lo
Arrastar tudo comigo para o fundo
Para depois flutuar em paz

Sinto o cheiro da maresia fria
Entrar-me pelo nariz
Como se inspirasse pedaços de vidro

Ergo a mão para o sol
Faço-o descer. Faço voltar a noite
Enquanto me afogo num pranto

Presa nas redes de um cérebro atordido
Cansada das marés
Demasiado cheias ou vazias

Consigo sentir a alvorada a fugir-me
Enquanto tento ficar
Segurar-me ao que a aurora me traz

E acima de tudo me leva
Sei que mesmo de olhos fechados
Consigo ver o mar

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