quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Desconversas #6

- A verdade é que estou com este problema e não sei o que fazer.
- Se eu fosse a ti, esperava. Depois logo se vê o que é que eles dizem.
- Esperar? Mas eu nunca fui de esperar por nada nesta vida, eu corro atrás. Algumas vezes fiz mal, se tivesse esperado mais uns dias, mais um momento que fosse, ficaria mais sábia e talvez me tivesse safado melhor. Só que isso agora já não interessa.
- Pois... Eu bem te avisei, sempre te disse que o mundo não acabava no dia seguinte, mas nunca me deste ouvidos.
-  O que é que quer dizer suspensão oficiosa?
- Vem de ofício.
- Sim, e?
- É isso que estou a dizer, vem de ofício, tem a ver com coisas que estão a pagamento... Em ofício.
- E o que é que eu faço?
­ - Espera, esperas e depois logo vês.
- Mas esperar não resolve nada.
- Pois não, mas enquanto o pau vai e vem, folgam as costas.  

Desconversas #5

Todos os dias quando estou a voltar para casa, do trabalho e estou a chegar a Pina Manique, penso em ti, por causa daquele cheiro a queimado muito estranho e que me enjoa sempre, mas várias vezes, sentado ao meu lado me disseste: Gosto tanto deste cheiro, cheira-me a torradinhas! - Fico sempre com vontade de rir, de me lembrar da tua cara, encolhido no banco, à espera do meu calduço. - Tudo isto para dizer publicamente que sinto a tua falta. :)

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Opto pela simpatia sem compromisso



Opto pela simpatia sem compromisso
Opto pela simpatia ao invés da amizade
As pessoas não gostam de compromissos
Têm dificuldades em cumprir
Opto pelo sorriso fácil
As pessoas não querem saber


Mil vezes preferível uma simpatia verdadeira
A uma amizade falsa
A um amigo que não é amigo
Àquele que quando é esperado não está
Porque não quer estar
E, é até legítimo, mas não o consideremos amigo, então


Opto pela simpatia ao invés da amizade
Opto pela simpatia sem compromisso
Dá-me menos trabalho, menos desencantos
As pessoas gostam de se enganar
Mas onde há inveja, não há amizade
Onde há competição, não há amizade


Nem sempre os sorrisos são sinónimos
De amizade.
Optemos, então, pela simpatia e boa educação
Optemos pelo caminho mais fácil
Existem momentos de amizade
Mas não amizades perfeitas


As pessoas são diferentes
Encontram-se em situações insólitas
Têm as suas vidas
Bocas grandes, costas quentes,
Cotovelos sensíveis e cérebros pequenos
Então, e se formos só sinceros?

Opto pela simpatia ao invés da amizade
Eram tantos e depois já não era nenhum
Talvez tenha confundido as coisas
Talvez a minha definição de amizade seja incorrecta
Talvez falar, escrever e mostrar não baste
Opto pela simpatia sem compromisso, então.


Opto pela simpatia
Porque a minha amizade está reservada
Àqueles com quem tive coragem
De assumir um compromisso
E acima de tudo cumpri-lo
E de não admitir que seja de outra maneira.


Opto pela simpatia
Porque a amizade está reservada
Ao compromisso dos que a merecem.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Não, não fales agora



Não, não fales agora
Agora não quero ouvir o que tens para me dizer
Agora não sou capaz
Agora os meus ouvidos são moucos
As minhas palavras mudas

Agora perdi a capacidade de audição
De pensar, de falar, de ter razão
Então, não fales agora
Guarda o teu silêncio para mim
Dá-mo agora que me faz tanta falta

Não, não fales agora
Não me expliques os porquês
Nem me dês essas justificações
Não quero desculpas, explicações
Quero silêncio, por isso, não fales

Não me digas que é assim ou assado
Por isto ou por aquilo
Porque o desgosto sugou-me as palavras
Ensurdeceu-me os ouvidos
E não entendo o que não tem explicação

Não se pode contrariar a lei da vida
O que é suposto, então, não, não fales
Não te incomodes, deixa-te estar
As tuas palavras já não são eloquentes
Já não me chegam aqui, já não as ouço

Houve dias em que gostava de te ouvir falar
Agora habituei-me bem ao silêncio
De não ter uma resposta, uma lembrança
A conversa que me fazia admirar-te
Não, não fales mais.

Não, não fales agora
Agora não quero ouvir o que tens para me dizer
Agora não sou capaz
Agora os meus ouvidos são moucos
As minhas palavras mudas

Agora imagino o que quiser
Por isso, não fales agora
Porque esta liberdade sabe-me melhor
Aperta-me o estômago, mas sabe-me melhor
Então, não fales.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Desconversas #4 - Um dos primeiros textos escritos – 8 anos



Se eu fosse o Presidente da República

Se eu fosse o presidente da república mandava alcatroar as ruas todas, metia as pessoas que estavam ao frio dentro de casas com mais conforto, com comida e com camas para elas dormirem, mandava fazer mais escolas para os meninos não se deslocarem para longe. Também arranjava muitos empregos para as pessoas ganharem muito dinheiro. Era isto que fazia.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Desconversas #3 - Pedido Importante



- Mãe, quero um irmão.
- Não pode ser, filha. A vida está tão difícil...
- Toda a gente tem um, menos eu.
- Oh...
- Acho que estás a ser egoísta, como tens muitos não me queres dar nenhum.
- Não é nada disso, é preciso ganhar dinheiro suficiente para ter mais filhos, a nossa casa não é grande...
- Eu não me importo, ele pode ficar no meu quarto.
- Pronto, um dia eu e o teu pai pensamos nisso.
- E quando vocês morrerem?
- (A bater na madeira) Não digas uma coisa dessas! Mas o que é que tem?
- Eu vou ficar sozinha no mundo, sem ninguém, porque não tenho um irmão.
- Oh meu Deus... Depois tens o teu marido, os teus filhos...
- Não é a mesma coisa, eu vou mesmo ficar sozinha neste mundo.


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Faz hoje 20 anos que ele nasceu e sou uma pessoa mais feliz desde esse dia, conhecedora do amor mais bonito que alguma vez senti. Sou uma mana orgulhosa e feliz por se ter cumprido uma vontade que me tem alimentado desde 1991 até esta parte. Happy Birthday, Fuxixas.

Não há surpresas


Não há surpresas
Não há dúvidas, nem certezas
Uma noite é mais uma noite
E os dias normais de incertezas

O tempo não pode mudar nada
Ninguém o pode fazer
Não se sabe se a opção é errada
Nem nunca se vai saber

Não há surpresas
Quando cai o anoitecer
E não se faz o que é para fazer
Quando as pálpebras ficam presas
E se quer esquecer

Não há surpresas
O mundo avança na mesma direcção
Só há um relógio
Mesmo os que pensam que não

Só não há surpresas
Nada para ser reinventado
Nada que já não tenha sido feito
Sei que estás ao meu lado
E que o mundo não é perfeito

Não há surpresas
Mesmo quando não faz sentido
Quando se chocam  naturezas
Quando não se tem um amigo

Não há supresas
Mas podes ficar aqui comigo?

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O Muro das Certezas


As coisas são muito diferentes do que eram. O passado não teve futuro e o presente é uma espécie de limbo em que me vou transportando até ao meu novo futuro.
O meu presente é diferente do que imaginei no passado, não me desagrada, pelo contrário, mas às vezes ainda me sinto confusa, como se tivesse de parar muitas vezes para saber onde estou ao certo.
Ao certo, não sei nada, já soube na altura em que as coisas eram muito diferentes do que são agora, na altura em que as coisas não eram melhores.
A minha insatisfação crónica sempre me deixou num estado contínuo de limbo, mas houve uma vez em que tive muitas certezas,  eram tão fortes que fiquei presa a elas durante muito tempo, tempo demais, é que se ergueram-se à minha frente, como se fossem um muro e não me deixavam avançar.
Houve um dia que fiz muita força, toda a que tinha, cerrei os punhos, fechei os olhos e deitei o muro das certezas abaixo. Caiu, caiu diante de mim, desfez-se em mil pedaços e o impacto foi tão grande, que os pedaços de muro fizeram ricochete e alojaram-se no meu corpo, mas consegui passar e nada nem ninguém me ia obrigar a ficar do outro lado encostada a um muro destruído.
Segui caminho, mas com pedaços do muro das certezas alojados no meu corpo, aquilo doía-me muito na maior parte das vezes,  ninguém via, ninguém percebia. Apenas me restava esperar que o  corpo rejeita-se  todos aqueles corpos estranhos ao meu.
Passaram-se longos duros meses,  o meu corpo nunca expulsou na totalidade os restos do muro das certezas, simplesmente habituou-se a eles, passaram a fazer parte do meu corpo como todos os outros órgãos.
Não me incomodava mais com a presença dos pedaços do muro das certezas. Só que, existiam dias em que  se espetavam mais e mais, voltavam a doer-me muito, sem eu saber porquê e muitas vezes depois de já ter esquecido da existência do muro, já lá não estava, ele caiu, mas doia-me, mesmo quando já nem sabia o que eram sentir dores, só isso.
Cheguei a desejar nunca ter criado um muro das certezas e das verdades, porque o apoio que me deu durante o tempo que passei encostada, revelou-se muito duro depois da sua destruição total.
Resta-me seguir em frente enquanto construo o meu novo muro, o muro onde me apoio agora e que ainda não tem nome. Sigo com a certeza de não querer voltar a erguer nunca mais nenhum muro das certezas ou coisas parecidas, porque elas um dia caem e noutro desaparecem e ninguém mais se lembra, excepto quem vive com eles espetados no corpo, como facas.

2009

terça-feira, 15 de novembro de 2011

A textura é forte


Tenho uma alma frágil
Uma alma sensível
Mas a textura é forte
O meu tecido resistente,
Rasga-se, eu coso.

Em casos mais graves,
Faço remendos



A alma sensível para escutar
O que não me dizem
Para ver o que não me mostram
Para escrever o que ninguém sabe
E nunca vão saber


A textura forte para gritar
Como se fosse louca
Para perder a razão, ser ilegal
E irreversível
Sensível, frágil, insegura
Bruta, forte, obstinada
E quanta obstinação


Choco comigo e contigo
Em várias frentes,
Em mundos erguidos, destruídos
Uns a arder, outros em cinzas
A alma sensível, mas a textura forte


Não posso ser feliz sem
A extra-sensibilidade que me foi dada


Não posso ser feliz
Sem a brutalidade que adquiri


Danos colaterais da alma sensível
De uma textura forte. 

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Desconversas #2 - Onde é que vão passear os senhores doutores?


Estou sentada ao volante do carro com ele ao meu lado, parámos num semáforo e ficámos à espera que o sinal mudasse para verde. As janelas estavam abertas, porque a noite estava quente e nos apetecia ir com elas assim. Nisto, uma pessoa de idade, um velho, espreita do lado do pendura e faz o seguinte discurso, sem que ninguém se tivesse reconhecido ou pedido uma informação, opinião que fosse.
- Onde é que vão passear os engenheiros da merda? É o que vocês querem, não é? Andar a passear, para trás e para frente de cú tremido, os senhores doutores. Senhores doutores, uma merda! Nem uma batata sabem plantar! Se houver aqui uma guerra quero saber para que vos serve tudo isto?! Quero saber o que é que vão fazer, não sabem fazer nada. Fui para a guerra, fartei-me de trabalhar, para vocês darem cabo de tudinho! Para nem uma batata saberem plantar, senhores engenheiros, doutores. Deram cabo de tudo!
O semáforo ficou verde e o carro arrancou, até o motor parecia mais silencioso, também ele a reflectir sobre as palavras de um velho que de maluco me pareceu ter muito pouco.

Pensamentos # 4 - Amigos


Os amigos não são pequenos quadrados alinhados num monitor. São pessoas com quem nos relacionamos, com quem crescemos, trabalhamos, passamos bons e maus momentos, etc.. Pessoas que fazem parte da nossa vida. O facebook e a Internet vieram modificar totalmente o conceito do que é ser amigo na verdadeira essência de o ser. Aos amigos e às pessoas especiais ainda se deve fazer um telefonema em datas de aniversário, Natal ou morte do cão, se não se puder estar presente e não uma frase igual a tantas outras. Porque os amigos são especiais. Acima de tudo porque os amigos verdadeiros estão primeiro no coração e depois facebook. E eu gosto muito dos meus. Tenho dito.


26 de Agosto de 2011

Pensamentos #3 - É mesmo preciso?



Porque é que é preciso oficializar tudo através do facebook? Tenho-me feito esta pergunta muitas vezes e tenho algumas dúvidas em compreender. Por exemplo, as pessoas fazem anos e estão na sala ao lado, dou-lhes os parabéns ou telefono-lhes quando não as posso ver, mas é como se fosse obrigatório parabenizá-las no facebook, se não, não é oficial, se não esqueci-me das pessoas. Bem como, só estamo......s doentes se pusermos uma fotografia com um saco de água quente na cabeça e o termómetro na boca. Só fomos de férias se pusermos as fotografias das férias. Só temos vida social, se pusermos as fotografias com os amigos e dissermos na altura em que estamos e onde estamos com eles... Já só gostamos das pessoas, dos amigos, dos maridos, mulheres, familiares se dissermos através desta coisa, que é para todos saberem. É preciso? É mesmo? E até contra mim falo, bem sei, mas pergunto-me também, é mesmo preciso materializar os sentimentos desta maneira? O que sentimos , sentimos, como estamos, estamos e devemos dizê-lo uns aos outros e não por aqui, como se estivessemos sempre a ser politicamente correctos ou a fazer coisas para inglês ver. Há muita vida lá fora, há, há.

Metamorfoses #2



Sinto gotas frias de cerveja a trespassarem-me os collants e fico incomodada, não consigo perceber de onde vieram, antes a chuva, agora a cerveja. Estes collants não são à prova de nada.
Páro para ouvir a música e não me está a soar bem, mas as pessoas parecem felizes, não quer dizer que estejam, porque elas fingem bem e encontram sempre maneiras de serem felizes, pelo menos as pessoas que o querem ser.
Não estou infeliz, apenas dentro de uma armadura de ferro, e nem assim consigo ficar menos incomodada com o fumo que já não é meu, com o amontoado de pessoas que se riem alto, a empurrarem-se, a deixarem cair copos no chão, a pisarem os copos partidos misturados com beatas e  gotas maiores de cerveja, as mesmas que me trespassaram os collants.
Bamboleio-me lentamente como se estivesse a ouvir outra música, porque não gosto da que está a dar, nem me apetece rir por a achar ridícula, não me apetece beber e também não me apetece ir embora.Todos este sentimentos são estranhos, é como se eu não fosse mais eu, como se uma dormência mental e física tivesse percorrido o meu corpo, como se estivesse em outro lado e não mais ali.
Avisaram-me que com a idade a paciência e as vontades noctívagas vão desaparecendo, que há até quem deixe de gostar. Nunca acreditei nisso, nem achei humanamente possível passar por tal fase ou sentir tal coisa, aliás, cheguei mesmo a temer ter cinquenta anos e estar a dançar no meio dos de vinte, em idosa socialmente desenquadrada, os típicos velhos com a mania que são novos, que usam roupas desajustadas para a idade e ainda fazem a corte com expressões de 1955.
Gosto do sitio onde estou, venho cá muitas vezes e não compreendo o que se passa, de onde continuam a vir estas gotas de cerveja que me mancham os ténis e me trespassam os collants, e me vão incomodando cada vez mais.
Seja o que for que está a acontecer ou me esteja a acontecer quero acreditar que é uma fase ou excesso de preocupações de uma pessoa adulta, que já nem sempre consegue desligar o botão, até porque tenho muitas collants e mais resistentes que estas para usar ...
Se talvez, chegar aos cinquenta ou setenta, já ouvi falar de uns bailes muito bons que fazem no Mercado da Ribeira, porque há sempre soluções para quem quer ser feliz e só consiga ser de uma certa forma ou de outra, ou da forma desenquadrada, desajustada e outras coisas que acabam em "ada".

Lisboa, 09 de Janeiro de 2011-01-09

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Era uma vez


Era uma vez uma menina
Muito, muito conversadora.
Desde pequenina
Que era muito faladora
Conversava de lés-a-lés
Falava com a boca
Olhos, cabelos, mãos e pés.

Tinha muitas ideias
Os pensamentos nunca paravam
As palavras corriam-lhe nas veias
E nunca lhe faltavam

De nada servia fazerem-lhe sinais
E se ela ficasse nervosa
Falava ainda mais
Discursava toda uma prosa
Cheia de enredos e jogos gramaticais

A menina tinha muito para dizer
Não se conseguia conter
Tudo era motivo de conversa
As pessoas cansavam-se
Sabiam lá eles o que ia na cabeça
Da menina que nunca desconversa.

Era uma vez uma menina
Que tinha muito para dizer
Falava com vários estilos de pessoa
E até estilos de gato e de cão
E à primeira macacoa
Lá começava ela com a sua canção
De palavreado parafrásico
Uma espécie de entoação
De um modo de falar básico

Uma vez taparam-lhe a boca
E a menina pôs-se a esbracejar
Ia ficando louca
Para além de quase sufocar!

Nem mesmo quando estava sozinha
Conseguia estar calada
Podia parecer uma tontinha
Mas a menina cantava!

Falava com as crianças, taxistas,
O senhor do talho e aquela estrangeira
Cumprimentava o alfarrabista,
E falava à velha da passadeira

Não havia nada a fazer
A menina nunca se haveria de calar
Ela diz que se um dia morrer
Volta nem que seja para conversar.

Era uma vez uma menina
Muito, muito conversadora.
Desde pequenina
Que era muito faladora
Conversava de lés-a-lés
Falava com a boca
Olhos, cabelos, mãos e pés.

02-12-2010

Pensamento #2 - Afinal sempre há Palhaços

Sempre ouvi dizer: "Não há dinheiro, não há palhaços." - Na minha opinião, cada vez há menos dinheiro e mais palhaços, palhaços a multiplicarem-se. Muda-se o provérbio: Não há dinheiro, mas há palhaços, que cheguem e sobrem!

Retalhos de Vida

O coração está mais leve
A alma menos atormentada
Menos ferida e magoada
Mas a essência está cá toda
Ninguém ma roubou
Não dei autorização que a levassem
Os sonhos são os mesmos
A vontade de viver também

Os tormentos são outros
E já não existe a necessidade
De serem preenchidos com a
Compreensão de coisas que nunca
Tiveram de ser compreendidas
A loucura é mais sã
Já não vai na direcção da auto-destruição,
Mas na da construção de coisas
Que não se planeiam mais

Os planos são coisas que pertencem
Ao futuro de pessoas que querem
Entrar na vida uma das outras.
O passado não é uma lição, não é
Uma desilusão, é um retalho do tecido
Da vida que passou, o futuro não pertence
A ninguém e ficamo-nos com o presente

Um presente que é o agora
Um presente com o coração leve
De que não ficou nada por dizer
Um presente que não vive de retalhos
De passados perdidos e futuros fracassados
Fica um presente, que é isso mesmo,
Um presente, uma oferta, um presente maior
Um presente só meu.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Nunca chega



O meu sorriso é tão fácil
Como o choro e como todas
As emoções que trago à flor da pele
Mas parece que sinceridade
E espontâneadade não chegam

Não me lembro de ter alguma
Vez feito mal a alguém
Claro que já todos magoámos alguém
Penso que terei pedido desculpa por isso
Parece que não chega

Não me lembro de ter passado por cima
Dos outros para atingir os meus objectivos
Nem de ter ficado roída de inveja
Quando os meus amigos se mudaram
Para uma casa maior e compraram aquele
Carro que faz voltar as cabeças quando passa
Mas isto não chega

Nunca fiz com que ninguém fosse despedido
Ou sequer envenenei alguém sobre
Determinada pessoa
Sempre respeitei as coisas  
Tentei compreendê-las mesmo sem concordar
E não chega?

Cometi e erros e já me arrependi
Já os remediei e os que remédio não têm
Remediados estão. Engulo sapos e vejo
Coisas horríveis todos os dias,
Coisas intragáveis.

E será que ainda não chega?

As pessoas têm o mundo do avesso
Os valores trocados e as suas inseguranças
Tornam-nos uns idiotas.
Chega.

Não sou um exemplo a seguir
Muito longe da perfeição
Mas se há coisas que não chegam
As pessoas já não são pessoas.
E isso é que não me chega.

Adultos Decentes, procuram-se...



Durante muito tempo, acreditei que à medida que íamos crescendo podíamos ter tudo o que queríamos, aliás, que ser adulto era um tipo de passaporte para a liberdade.
É mentira e percebo que não é assim, porque as coisas que ficam para trás e mais aquelas que se perdem pelo caminho, fazem-nos muita falta  e nem sempre as memórias chegam para colmatar certos vazios, certas feridas. Sorte daqueles que as conseguem cozer muito bem e ficar com uma cicatriz perfeita, há aqueles que como eu, ainda sagram de vez em quando.  
Nem sempre crescer é sinónimo de ter uma vida melhor e mais fácil.  Fartaram-se de me dizer isto e nunca acreditei, achava que era apenas conversa de adultos cinzentos, que perderam a capacidade de sonhar, conversa de adultos que perderam a capacidade de serem jovens.
Só que a transição de jovem para adulto, mostra-se muitas vezes árdua e muito dura, até porque não dá para ser adulto e continuar a acreditar nas coisas que se acreditam quando se é mais novo, porque nos comem vivos. (Será que é aqui que se perde a capacidade de sonhar e de ser jovem?).
Creio que, a insatisfação crónica também não ajuda, mas não consigo perceber se as pessoas são mais felizes quando estão menos perto  da verdade ou quando percebem perfeitamente como as coisas funcionam. O que será preferível, um engano na vida ou viverem toda uma vida enganados?
Seja como for, é normal que existam fases em que as pessoas se sintam mais desanimadas, até porque este país não permite grandes sonhos para novos, nem grande qualidade de vida para velhos... Resta-nos viver com a sensação de que “se ficar o bicho pega e se correr o bicho come”.
Não quero ficar à espera que o bicho me pegue e muito menos me coma, mas se um dia fui demasiado naíf, sei que estive muito mais perto do que se possa parecer com a felicidade. Não é que agora não seja uma pessoa feliz, as pessoas sabem lá se são felizes ou não, sabem lá o que é ser feliz. Na parte que me toca, sou uma pessoa profundamente desiludida com as pessoas, mas não desisto, o espírito lutador também não mo permite e acredito que deve existir um meio termo entre a ingenuidade e a desilusão. E, é esse o trilho que percorro agora, porque sei que há pessoas que valem muito a pena por aí, em extinção, mas ainda existem que eu sei.

domingo, 6 de novembro de 2011

Inception 2010

"Cobb: You create the world of the dream, you bring the subject into that dream, and they fill it with their subconscious.
Ariadne: How could I ever acquire enough detail to make them think that its reality?
Cobb: Well dreams, they feel real while we're in them, right? It's only when we wake up that we realize how things are actually strange. Let me ask you a question, you, you never really remember the beginning of a dream do you? You always wind up right in the middle of what's going on.
Ariadne: I guess, yeah.
Cobb: So how did we end up here?
Ariadne: Well we just came from the a...
Cobb: Think about it Ariadne, how did you get here? Where are you right now?
Ariadne: We're dreaming?
Cobb: You're actually in the middle of the workshop right now, sleeping. This is your first lesson in shared dreaming. Stay calm. "

Desconversas #1 - Criança de 3 anos


Criança: (Apontando para o meu nariz) Porque é que tens aqui um parafuso?
Eu: (A rir muito) Não é um parafuso, é um brinco.
Criança: Porque é que em vez de usares brincos nas orelhas usas aí?
Eu: Porque é um piercing.
Criança: O quê?
Eu: Um piercing, uso um piercing no nariz. Diz lá: "Piercing".
Criança: Não.
Eu: Diz como sabes.
Criança: Isso é um parafuso.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Silêncio


Atiro palavras ao silêncio que não me ouve
Ao silêncio mudo
Onde é que está toda a gente?
Atiro palavras ao silêncio que faz eco
Ao silêncio que repete e me devolve
Me devolve o que digo mas o não o que quero
Atiro palavras à mão cheia, vejo-as dispersar
Nunca chegam ao destino, ou quando
Chegam já não são iguais às de origem
Não são iguais a nada que conheça

Atiro palavras ao silêncio dormente
Ao silêncio melancólico das coisas que
Ficaram por dizer ou das que foram ditas
E não tiveram qualquer efeito
Atiro palavras ao silêncio dormente
Palavras que foram deturpadas por outros
 Outros melancólicos e engolidos
Pelo seu próprio silêncio, esmagados
Pela sua dormência mascarada e muda
Atiro-as despojadamente, sei que não voltam

Atiro palavras ao silêncio desconhecido
Algumas não deviam ter sido ditas
Palavras feias, palavras bonitas
Atiro palavras ao silêncio desconhecido
Porque às vezes é o melhor remédio
O que não se diz também não se sabe
E o que não se sabe fica no silêncio
E somos todos mais felizes assim
Sem percebermos as verdadeiras intenções
E inventado uma explicação para atitudes

Palavras que não se dizem
Coração que não sente

Atiro palavras ao silêncio que não me ouve
Ao silêncio mudo
Ao silêncio desconhecido

A Sugadora de Energia

Era uma rapariga normal
E nada o fazia prever,
Era uma sugadora de energia
E ninguém tinha como se proteger

As pessoas sentiam-se cansadas
E ficavam meio entorpecidas
Eram totalmente sugadas
E outras dadas como desaparecidas

Tirava a energia de cada uma
Que se tentava aproximar
Transformava-as em espuma
Que se desfazia pelo ar

Sentia-se muito infeliz
Mas não conseguia evitar
Sempre que se entusiasmava
Acabava por as matar

No auge da sua eloquência
E da sua euforia
Via nas pessoas a tal sonolência
E depois... Era só espuma que se via.

Era no entanto encantadora
E boa para se conversar
Pena que fosse assustadora
E tão difícil de acompanhar

Era ver as pessoas a tentarem
Fazer parte do acontecimento,
De certa forma a lutarem
Para não serem espuma ao vento

Sem saber o que fazer
A rapariga procurou uma solução
Havia de conseguir viver
Sem aquela terrível maldição

E num dia ensolarado
Enquanto usava o seu chapéu
Foi deitada num descampado
Que a resposta lhe veio do céu

Era o fim do seu castigo
E ela já se podia entusiasmar
Ninguém corria perigo
Ela não ia continuar a matar

Dedicou-se às renováveis
Eram o que estava a dar
As pessoas já não eram vulneráveis
Porque ela só sugava energia solar!