segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Metamorfoses #2



Sinto gotas frias de cerveja a trespassarem-me os collants e fico incomodada, não consigo perceber de onde vieram, antes a chuva, agora a cerveja. Estes collants não são à prova de nada.
Páro para ouvir a música e não me está a soar bem, mas as pessoas parecem felizes, não quer dizer que estejam, porque elas fingem bem e encontram sempre maneiras de serem felizes, pelo menos as pessoas que o querem ser.
Não estou infeliz, apenas dentro de uma armadura de ferro, e nem assim consigo ficar menos incomodada com o fumo que já não é meu, com o amontoado de pessoas que se riem alto, a empurrarem-se, a deixarem cair copos no chão, a pisarem os copos partidos misturados com beatas e  gotas maiores de cerveja, as mesmas que me trespassaram os collants.
Bamboleio-me lentamente como se estivesse a ouvir outra música, porque não gosto da que está a dar, nem me apetece rir por a achar ridícula, não me apetece beber e também não me apetece ir embora.Todos este sentimentos são estranhos, é como se eu não fosse mais eu, como se uma dormência mental e física tivesse percorrido o meu corpo, como se estivesse em outro lado e não mais ali.
Avisaram-me que com a idade a paciência e as vontades noctívagas vão desaparecendo, que há até quem deixe de gostar. Nunca acreditei nisso, nem achei humanamente possível passar por tal fase ou sentir tal coisa, aliás, cheguei mesmo a temer ter cinquenta anos e estar a dançar no meio dos de vinte, em idosa socialmente desenquadrada, os típicos velhos com a mania que são novos, que usam roupas desajustadas para a idade e ainda fazem a corte com expressões de 1955.
Gosto do sitio onde estou, venho cá muitas vezes e não compreendo o que se passa, de onde continuam a vir estas gotas de cerveja que me mancham os ténis e me trespassam os collants, e me vão incomodando cada vez mais.
Seja o que for que está a acontecer ou me esteja a acontecer quero acreditar que é uma fase ou excesso de preocupações de uma pessoa adulta, que já nem sempre consegue desligar o botão, até porque tenho muitas collants e mais resistentes que estas para usar ...
Se talvez, chegar aos cinquenta ou setenta, já ouvi falar de uns bailes muito bons que fazem no Mercado da Ribeira, porque há sempre soluções para quem quer ser feliz e só consiga ser de uma certa forma ou de outra, ou da forma desenquadrada, desajustada e outras coisas que acabam em "ada".

Lisboa, 09 de Janeiro de 2011-01-09

4 comentários:

  1. Desculpa... a cerveja era do meu copo. Deram-me um encontrão...
    De qualquer modo, acho que a idade é uma formalidade burocrática que dá jeito a muita gente para saberem como se devem comportar.
    E isso não é para nós. Nós reinventamo-nos e não seguimos as regras dos outros.

    Ass: Um Quarentão-Que-Dança-No-Meio-Dos-De-Vinte :-)

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  2. Só não digas "Mekié" e "Comé queh tuh tásh", por favor. "H's" e "K's" é demasiado jovem e estúpido.

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  3. Isso acontece-me sempre que vou ao Incógnito (duas vezes, portanto). Excepto a parte dos collants, porque me fazem calor e pq vou de calças. Beijooooo

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  4. :D Eu sei, Nunes, já lá estive contigo e sei como odeias. Por acaso não foi lá. :)

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