quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O Muro das Certezas


As coisas são muito diferentes do que eram. O passado não teve futuro e o presente é uma espécie de limbo em que me vou transportando até ao meu novo futuro.
O meu presente é diferente do que imaginei no passado, não me desagrada, pelo contrário, mas às vezes ainda me sinto confusa, como se tivesse de parar muitas vezes para saber onde estou ao certo.
Ao certo, não sei nada, já soube na altura em que as coisas eram muito diferentes do que são agora, na altura em que as coisas não eram melhores.
A minha insatisfação crónica sempre me deixou num estado contínuo de limbo, mas houve uma vez em que tive muitas certezas,  eram tão fortes que fiquei presa a elas durante muito tempo, tempo demais, é que se ergueram-se à minha frente, como se fossem um muro e não me deixavam avançar.
Houve um dia que fiz muita força, toda a que tinha, cerrei os punhos, fechei os olhos e deitei o muro das certezas abaixo. Caiu, caiu diante de mim, desfez-se em mil pedaços e o impacto foi tão grande, que os pedaços de muro fizeram ricochete e alojaram-se no meu corpo, mas consegui passar e nada nem ninguém me ia obrigar a ficar do outro lado encostada a um muro destruído.
Segui caminho, mas com pedaços do muro das certezas alojados no meu corpo, aquilo doía-me muito na maior parte das vezes,  ninguém via, ninguém percebia. Apenas me restava esperar que o  corpo rejeita-se  todos aqueles corpos estranhos ao meu.
Passaram-se longos duros meses,  o meu corpo nunca expulsou na totalidade os restos do muro das certezas, simplesmente habituou-se a eles, passaram a fazer parte do meu corpo como todos os outros órgãos.
Não me incomodava mais com a presença dos pedaços do muro das certezas. Só que, existiam dias em que  se espetavam mais e mais, voltavam a doer-me muito, sem eu saber porquê e muitas vezes depois de já ter esquecido da existência do muro, já lá não estava, ele caiu, mas doia-me, mesmo quando já nem sabia o que eram sentir dores, só isso.
Cheguei a desejar nunca ter criado um muro das certezas e das verdades, porque o apoio que me deu durante o tempo que passei encostada, revelou-se muito duro depois da sua destruição total.
Resta-me seguir em frente enquanto construo o meu novo muro, o muro onde me apoio agora e que ainda não tem nome. Sigo com a certeza de não querer voltar a erguer nunca mais nenhum muro das certezas ou coisas parecidas, porque elas um dia caem e noutro desaparecem e ninguém mais se lembra, excepto quem vive com eles espetados no corpo, como facas.

2009

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