quinta-feira, 16 de maio de 2013

A melancolia vicia-me


A melancolia vicia-me
Com um trago de fumo
Um gole numa bebida
Que me faz arder a garganta
Às vezes amarrota-me por dentro
Fazendo estilhaçar pedaços
Da minha velha alma
Espantando os pássaros
Que vivem pousados nela
Batem as asas com tanta força
Que às vezes o peito dói-me

Esse silêncio diz mais do que
Qualquer palavra
Tem cheiro de terra molhada
E de madeira ardida numa lareira antiga
A tua não expressão arderá
Para sempre em mim
Sem quaisquer vestígios de cinza

A melancolia vicia-me
Como uma droga 
Que não posso largar
O sorriso mudo
Atravessa-me como uma espada
Como uma dor que preciso sentir
Para saber que ainda
Habito neste corpo

A melancolia vicia-me
Porque é só minha
Pessoal e intransmissível
Inexplicável por palavras
Música, dança
Não vem nos livros
Não se aprende na escola 

Não quer dizer que sinta o que digo
Muito menos que não sinta o que
calo. 
As palavras dizem tão pouco
Escondem tanto
Colam-se ao céu da boca 
Como uma hóstia
Para serem projectadas 
A metros de distância
Em todas as direcções
Indiscriminadamente
São balas.

Não te quero atingir
Nunca vou ter as respostas
Que podiam melhorar tudo

A melancolia vicia-me
Substituo os pássaros silenciosos
Os que vivem pousados 
Na minha velha alma
Pelo som de harpas
Cordas de violinos 
E bailarinas em pontas
O truque é nunca mostrar
O lado do avesso, 
Aquele que se incendeia
No estômago e revira tudo
Que faz ir para o norte
Quando o sentido é o sul.

Há dias de luz
Em que a melancolia e a comédia
Se entrelaçam como lã num tear
E fico naquele bordado dias sem fim
Tudo se agarra a mim
Com a força do universo
Não dá para seguir em frente
Deixar cair tudo ao chão
Sem voltar o rosto e reparar

No que se perde pelo caminho
No que desaparece
Da minha velha alma
Onde os pássaros gostam
De estar pousados
Batem as asas com tanta força
Que às vezes o peito dói-me.
A melancolia vicia-me. 

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