terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Ai, se me dói

E custa-me saber que as pessoas
Não têm motivos para sorrir
Nada em que acreditar
Que o último sonho
Morreu há mais de uma década
E o cinzentismo as abraçou.
Dói-me a falta de esperança alheia
A nuvem negra que lhes paira
Constantemente no cimo da cabeça

As caras fechadas
Consumidas num emaranhado
De dúvidas e de crenças perdidas
Os dentes que só aparecem
Quando são escovados
O olhar de peixe morto, embaciado
Com um constante lacrimejar
Ai, se me dói
Ai, se me consome a mim a tristeza

A tristeza que não é minha
Mas que se pega como doença
De um século antigo
À velocidade de um rastilho
Aquele desalento desfeito a flutuar
Como se fossem partículas de pó
Ao sol, partículas de pó ao sol
Aquele marasmo inerte
Faz-me doer os órgãos

A crítica, a insatisfação constante
As palavras amargas que só servem
Para queimar a pele, os ouvidos
E custa-me saber que elas andam
Entre nós, estas pessoas
Esta espécie de mortos-vivos
Carcomidos pelo vazio, por um
Grande nada, que se alimenta
De tudo o que é mau

Ai, se me dói
Ai, se me consome a mim a tristeza
A nuvem negra que lhes paira
Constantemente no cimo da cabeça
O olhar de peixe morto, embaciado
Como se fossem partículas de pó
...Para queimar a pele, os ouvidos
Esta espécie de mortos-vivos
Ai, se me dói

E desejava quando era criança
Nunca vir a ser como eles

Mas não consigo ficar indiferente
Porque me dói
Ai, se me dói

2 comentários: