Ai senhores, que me faltam
as palavras
Que isto nunca aconteceu
antes
Ai senhores, não sei que
fazer
Que isto nunca aconteceu
antes
Não ter que dizer, a falta
de assunto
Não, não me façam falar sobre o tempo
Sobre o mexilhão que se lixa sempre
E agora como é que vou
fazer?
Tenho dado por mim calada, introspectiva
Só penso em poesia e em histórias
bonitas
Em histórias esquisitas,
E se o que me sair da boca não
for poesia
Calo-me,
Se o que sair do meu corpo não for dança
Paro.
Mas as palavras, e as
palavras?
Há dias que até tenho dado
por falta da voz
Outros em que a voz se
enferruja
De tantas horas calada
Ai senhores, ai senhores
Isto é de grande aflição
Pouco mais sei fazer que
falar
Do que fazer rir com as
palavras absurdas
Leio, leio muito para que não
me falte
Vocabulário, não vá o meu cérebro
Ter-se fartado do que tenho.
Será que é
um castigo, isto agora de ser
calada
E a concentração em que dou por mim?
Só mais motivo de preocupação.
E pergunto-me: quem és tu?
Ai senhores, acho que estou
a ficar
Ai, como é que se diz... Aquela
palavra...
A... Adulta. Passa ao próximo
e não ao mesmo.
Vai de retro, vai
só...
E o silêncio volta
..................................................................................
(Ouve-se o vento soprar)
..................................................................................
Este silêncio
Atira-se a mim como um cão raivoso
Com ordem para matar
Ai senhores, as minhas
palavras
Estão-me a ser arrancadas
uma a uma
Numa espécie de malmequer
bem-me-quer
Ai senhores e eu?
Eu que só penso em poesia e em histórias
bonitas
Em histórias esquisitas,
E se o que me sair da boca não
for poesia
Calo-me,
Se o que sair do meu corpo não
for dança
Paro.
Senhores, senhores.
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