Houve tempos
Em que
caminhava sozinha até casa
E gostava ir
de a cantar e a dar nomes
Às estrelas.
Ainda sei
alguns de cor.
As estrelas
tinham o significado que eu
Queria que
tivessem, nada a ver com
Constelações e
leis de astronomia.
Houve tempos
Em que fazia
do varão do cortinado
O meu
espaldar e sonhava com tule
Cor-de-rosa e
lagos de cisnes.
Houve tempos
Que o pico de
adrenalina dos dias
Era correr o
mais depressa que podia
E ficar em
primeiro lugar na fila de almoço.
Às vezes
caía, mas ficava em primeiro.
Para poder
inventar coisas no resto do almoço.
Houve tempos
Tempos que
não lanchava
Só para ter
dinheiro para comprar gomas
E chupas com
açúcar ácido
Que não me
alimentava para ter espaço
Para os croissants
com chocolate quentes.
Houve tempos
Em que os
bonecos eram os meus amigos
Que os
sentava todos alinhados
Como se
estivessem num quartel
Ensinava-lhes
português,
Cantava e
dançava para eles
Como se a
qualquer momento pudessem
Ganhar vida,
Abandonar
aqueles corpos amorfos
E os olhos
parados me pudessem ver.
Sempre foram
o meu púbico favorito.
Houve tempos
Que imitar as
coreografias da televisão
Era o melhor
que podia acontecer,
Fugir das
aulas de música
Para brincar
naquela casa abandonada
Era a maior
das aventuras.
Houve tempos
Que uma troca
de olhares despoletava
Gargalhadas compulsivas
durante horas
Em sítios
onde não se podia rir
Tempos em que
as palavras escritas
Em pequenos
cadernos perfumados,
Eram como
segredos da Nasa.
Houve tempos
Que carrosséis
eram uma droga alucinogénia
Tal era a
euforia, o bater do coração.
O mesmo com
bolas de gelado,
Castelos
insufláveis, baloiços.
Houve tempos
Que saltar
num trampolim
Era o maior
impulso para a liberdade,
Para chegar a
algum lado
Que apenas eu
conhecia
Onde só as
minhas asas me podiam levar.
Houve tempos
Que me
atiraram para aqui
Para esta
realidade.
Houve tempos
Que a
realidade me amachucou
Como uma
folha de papel
Que me pôs o
pé em cima
Houve tempos
Em que lhe
ganhei,
Que lhe
atirei a língua de fora,
Bati com o pé
no châo, cruzei os braços
E levei a
minha avante.
Os tempos
trouxeram-me
Tudo aquilo
que fiz em tempos.
Houve tempos,
mas sei que existirão
Muitos mais.
Que bom ter-te de volta! É sempre tão bom ler-te! Que venham mais tempos!
ResponderEliminarGostei muito senhorita! E não terei sido o único. Pena que os blogs tenham passado um bocadinho de moda e comenta-los deixou de dar estilo. Mas ler-te será sempre um prazer. Ler-te e não só ;)
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