sexta-feira, 4 de outubro de 2013

O aborrecimento é uma maldição

O aborrecimento que mata lentamente
Olho para eles e sinto-lhes 
O sangue que corre na medida certa
O sorriso mil vezes ensaiado
Os batimentos cardíacos alinhados
A concentração de paus mandados
As mãos sempre secas
Das coisas iguais, 
Perfeitamente arrumadas
Falso o fogo, 
Imagens projectadas
Umas atrás das outras
Como lhes disseram que tinha de ser
Tudo no tempo certo
Grande equilíbrio e ponderação
O gosto adocicado na boca
Erros corrigidos 
Que nunca mais se repetem
O cabelo alinhado
Parem! 
Alguém que os acorde,
Que lhes amarrote a roupa
Alguém lhes dê um abanão
Alguém lhes explique que
O aborrecimento é uma maldição
Transforma-os em bonecos de cera
Em pouco tempo
O aborrecimento mata lentamente
Quando perceberem será tarde demais
Não haverá salvação
Já não tropeçarão nas palavras
Nem poderão voltar atrás
Sentir o formigueiro no estômago
O entusiasmo das luzes
Estarão mortos
Sem fazerem a mínima ideia 
E seguem sem arrependimentos
Adoráveis na sua perfeição
Dias sem noites
Mas o aborrecimento mata lentamente
É uma maldição
Sem colete à prova de balas
Optimismo eloquente
Na maior parte do tempo
A língua sem cortes
Esperança e certezas imaculadas
Os não impulsos 
A energia na voltagem certa
Os pulsos para usar pulseiras
Terrenos de conforto
O vazio preenchido com vasos de flores
O aborrecimento é uma maldição
Feliz de quem não nasceu debaixo
De tais sombras
Alguém que os avise
A perfeição das pequenas coisas
A realização pessoal
É uma bruxa com um cesto de maçãs
Acham-se adoráveis na sua perfeição
Bafejados pela sorte
Mas, não são bonecos de cera
Cheios de certezas
Paus mandados a cumprir 
Como lhes disseram para fazer
Parem!
Fujam
Corram com aquela força nas pernas
Aquela que tiveram um dia
E que o aborrecimento
Vos está a roubar.
Uma vez abraçados por tal maldição
Não haverá para onde ir
As pernas, os braços, o coração
Tudo se transforma em cera
E seremos obrigados 
A viver neste museu para sempre



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