Abracei o silêncio
Envolvi-o com os meus
braçosCom as minhas pernas
Mergulhei todo o meu cabelo
E deixei-me submergir
Cosi a boca para não
mais falar
Para não se confundir o
risoCom excesso de confiança
Para não se interpretar mal
As palavras pronunciadas
Sigo em silêncio, de boca
bem cosida
Os olhos mais abertos que
nunca E os ouvidos são de tísica
O cérebro vai à velocidade da luz
Processando as palavras não ditas
Consome-as, rasga-as,
evapora-as
Através da transpiração do
corpoE que bem que me sabe este silêncio
O não tropeçar mais na compreensão
Que nunca me foi dada
Fico a observá-los do alto
Do meu silêncioMatam-se e esfolam-se em disputas
De felicidade, de egos, de poder.
Isto é uma vida, não é uma guerra
Os seres humanos que não
conseguem
Ser felizes, precisam de
guerras interioresOu compradas para se alimentarem
Chamam os amigos, sentam-se à mesa
Dão as graças, brindam e comem tudo.
Sempre me deu vómitos,
A minha esofagite de refluxo
Nunca me permitiu engolir certas coisas
O silêncio ajuda a proteger as paredes
Do estômago, acalma o ardor.
A boca cosida impede-me
De participar em
genocídiosQue me colocam na linha da frente
E que bem que me sabe este silêncio
O colete à prova de balas
Sento-me aqui,
Baixo as armas e rendo-meCruzo os dedos e faço figas
Que tenhas aprendido a linguagem
Dos meus olhos...
Os seres humanos que não conseguem
Ser felizes, precisam de guerras interiores
Ou compradas para se alimentarem
Chamam os amigos, sentam-se à mesa
Dão as graças, brindam e comem tudo
E eu... Eu, de boca cosida,
Abracei o silêncio
Envolvi-o com os meus braços
Com as minhas pernas
Mergulhei todo o meu cabelo
E deixei-me submergir.
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