domingo, 15 de abril de 2012

Amor



- Como é que se tem sentido? – Pergunto-lhe.
- Sabes, é muito difícil. Nós crescemos juntos, andámos na escola juntos, casámos... Em toda a vida o único tempo que estivemos separados foram os onze meses que ele foi chamado para Cabo Verde*. Tivemos as nossas filhas e ainda contávamos muito um com o outro. – Disse com um sorriso triste.
- Compreendo. No caminho para cá, lembrei-me que iria entrar nesta casa, e que ele não ia cá estar e isso fez-me chorar. Eu queria que ele aqui estivesse a rir de todas as parvoíces que digo.
- É verdade. Ele gostava muito de ti, tinhas ali um grande amigo.
- Eu sei. Custa-me muito a minha perda, mas custa-me mais a sua, por saber o quanto eram unidos.
- O pior é mesmo no dia-a-dia. De vez em quando ainda o chamo para me ajudar a fazer qualquer coisa, ou para lhe perguntar coisas... Depois lembro-me que ele não está e que não virá.
- Imagino.
- O melhor, é que se voltasse atrás fazia tudo igual. Voltava a escolher o homem com quem casei há 40 anos e que perdi agora. Não havia outro que escolhesse, se não este. Sempre soube disso.
- Desculpe, mas acho que vou chorar.
- Não chores, menina. - Abraço-a muito.  

*Não tenho a certeza que tenha sido Cabo Verde.

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