terça-feira, 2 de abril de 2013


Olá insónia
Não nos víamos há algum tempo
Chegas silenciosa
Mas eu sei que estás aí
Os meus pensamentos parecem
Cardumes de peixes no mar alto
Nadam de um lado para o outro
As pálpebras espetam-se-me 
como lâminas fininhas nos olhos
O meu corpo parece um saco vazio
Depositado no colchão
Contorce-se em várias posições
Nada. O vazio. O sono passa lá
Fora na rua. Aqui não. 
Ouço barulho
Acho que sou eu
Parece o coaxar de um sapo
É o meu estômago
Tanto sítio para ele estar
E o desgraçado do sapo escolheu 
A pernoitar no meu estômago, 
Sentado num nenúfar

Ouço grilos, mochos e todo o tipo
De animais noctívagos
Ninguém me obriga a ficar nesta 
Selva por mais um segundo que seja
Deambulo pela casa, trauteio
Passo os dedos pelos móveis
Vejo através do vidro o remoinho 
De folhas velhas e bocados  
de molas da roupa partidas
Está um gato lá fora, sentado
Veio atraído pelos meus pensamentos
Também lhe parecem cardumes de peixes
Em alto mar. E disso percebe o gato. 

Muito mais do que eu
Mas sei bem sobre animais nocturnos
Sei sobre o silêncio
Sobre a facada que será acordar
Isto se a insónia me fizer o favor
E eu chegar a adormecer
Se o sapo se calar
E o gato encher a barriga 
Com os meus pensamentos
Esses cardumes de peixes
Em alto mar








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