domingo, 21 de abril de 2013

Trazia os olhos brilhantes

Trazia os olhos brilhantes
Como duas brasas num céu
De lua nova
Lábios vermelhos, 
Cor de sangue, sabor a romã
Cabelos enrolados como um arrozal velho

Roupa escura colada ao corpo

Camuflada com um espírito
Que queimava no arder da noite 

Trazia sonhos e recordações 
Tantos como poeiras cósmicas
Do universo

O peito, um acordeão a oscilar 

Enquanto engolia uma sopa
De desilusões e desapontamentos


Esperava recarregar as forças 

Até ao florescer da velhice
Num lugar onde a aurora existisse

Embalava-se num baloiço à espera 
Que do seu peito se fizessem dálias
Que da insensatez nascessem pássaros

Tão livres quanto como um dente-de-leão 
E a coragem viria por si só
Num rugir mudo

Trazia os olhos brilhantes

E raios de sol a trespassarem-lhe
Os buracos que trazia no peito

Os buracos feitos por mãos alheias
Invisíveis e de outros tempos
Preenchidos pelo amor de outros

Trazia o corpo mortiço
Arrastava-o na direcção do mar
Esperava que dele se fizesse espuma

Que se fizesse amor e compreensão
Que de repente tudo fosse novo
Tudo fosse espanto

Trazia um arco-íris de delírio
Nos seus olhos 
E as mãos cheias de encanto. 













   

3 comentários:

  1. Tens que começar a escrever coisas mais alegres :) Este é bom, mas está tanto sol que não vale a pena tanta depressão..

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  2. Senhor Deckard, não é depressão é interioridade. E neste caso o sol não me serve de muito. Prometo que escreverei brevemente uma ode à alegria em dias de sol... Ass: A branca de neve.

    Dona Formiga, ainda bem gostou. Gosto sempre quando gosta. Também gosto de a ler.

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