domingo, 23 de junho de 2013


A vizinha de cima passa a sopa. O do segundo fura à parede. O do lado seca o cabelo. E eu aqui. Onde não há mar. Cheiro a sardinhas. Apenas o som das teclas. Marcam o compasso das músicas que vou ouvindo. Milhares delas. Horas a fio. Não podendo sair, vivo aqui sentada. A viver mil vidas através de histórias que vou escrevendo. Das personagens que falam por mim, que vivem por mim. É um tipo de expiação. A música faz-me sentir coisas quando acho que estou dormente e que tudo se foi. Levam-me aos sítios onde não posso ir. Não sinto o sol na cara. Não me cheira a sardinhas. Não sinto o calor na pele. O meu pescoço transformou-se num tronco de árvore enquanto repito vezes sem conta: Tu consegues. Tu consegues. Tu consegues.  

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