Há dez anos atrás estava tão longe de onde estou agora. Estava
a fazer algo que mudaria a minha vida para sempre de uma forma que não podia
imaginar. E olho para mim e é como se estivesse a olhar para a vida de outra
pessoa. Como se aquela pessoa não fosse eu, como se esta pessoa não fosse mais
aquela. Aquela pessoa desejava tudo o que esta tem, ia-se a baixo por achar que
nunca conseguiria. Esta pessoa vai-se a baixo por ter o que tem e não saber se é
o que quer. Talvez o que nos separe não seja assim tão diferente. A essência
será sempre a mesma. Por um lado, era mais feliz quando não sabia muitas
coisas. Por outro, consigo ser mais feliz agora que as sei. São dois tipos de
felicidades diferentes. E a ponte que as une é frágil e estreita. É um longo e árduo
caminho que teve de ser percorrido. Foi feito a escrever, a falar, a procurar
ajuda, alguma compressão, a dançar. Na maior parte das vezes nada ajudou. Fiz a
travessia uma vezes a rir, outras a chorar, a correr, a arrastar-me. Ninguém me
disse que ia ser fácil, mas ninguém me disse que ia ser tão difícil. Acabada a
travessia coloquei-me na posição das acrobatas chinesas. Primeiro nível concluído,
algumas vezes com mérito, outras nem tanto. O mérito é o que menos me importa.
Mas aquela miúda, aquela miúda era gira, insegura, ouvia música diferente da
que esta ouve agora, tinha ideais diferentes... Aquela miúda projectou nesta determinadas
coisas que nunca aconteceram, coisas que eram suposto, que ela achava
apropriadas. Esta miúda adora que não tenham acontecido e percebe que gosta
desta leveza, de continuar a ter essência da outra miúda. Há muitas situações em
que a distância entre nós não é assim tão grande. Aquela miúda era mesmo só
isso, uma miúda, muito mais miúda do que devia ser para a idade. O coração a
formar-se, o cérebro baralhado. Essa miúda esperou, esperou, esperou. O coração
não estava a formar-se, apenas era assim e o cérebro ainda se baralha às vezes. Somos diferentes. Somos.
Mas os processos químicos continuam a ser os mesmos. Aquela miúda sorri-a sem
parar, esta contempla-a numa introspecção maior.
Eu conheci essa miúda...e sim, era mesmo tudo isso. Infelizmente vivemos num mundo em que não basta ter talento em certas alturas da vida, há que ter dinheiro para por exemplo...acabar um curso. Felizmente essa miúda enfrentou as adversidades, lutou por o que realmente queria, deixando para trás o sonho de acabar o curso e seguindo um sonho de verdade, passando por trabalhos que não eram o que queria, mas que a aproximavam do ambiente que queria atingir.
ResponderEliminarEssa miuda, contou-me num café das Amoreiras- uns anos depois- que finalmente já era argumentista (acho que até era guionista na altura) e sabes aqula sensação quando se v~e aqueles filmes tipicamente americanos, em que o patinho feio da escola secundária se revela uma bomba no baile de finalistas e arrasa com tudo? Foi isso que eu senti, um orgulho enorme por seres das únicas que, hoje em dia faz o que realmente gosta, no meio daquela betalhada e pseudo-tudos que lá havia- tu conseguiste. E sem dinheiro, e sem cunhas, apenas com esforço e o teu enorme talento.
Tenho tanto orgulho dessa miuda, e de ti..e de vocês juntas, que fazem UMA realizada!
Tanto, mas TANTO mesmo....
<3