sexta-feira, 19 de julho de 2013

Não penses. Que raio de mania essa de estares sempre a querer pensar. Pensar é trocar uma flor por um silogismo, um vivo por um morto. Pensar é não ver. Olha apenas, vê. Está um dia enorme de sol. Talvez que de noite, acabou-se, como diz o filósofo da ave de Minerva. Mas não agora. Há alegria bastante para se não pensar, que é coisa sempre triste. Olha, escuta. Nas passagens de nível, havia um aviso de «pare, escute, olhe» com vistas ao atropelo dos comboios. É o aviso que devia haver nestes dias magníficos de sol. Olha a luz. Escuta a alegria dos pássaros. Não penses, que é sacrilégio.

Vergílio Ferreira

Raio de mania esta de querer estar sempre a pensar, raio de mania esta a minha. Um botão constantemente ligado. Até a dormir. É um silogismo. Um morto. É a minha miopia. É o nevoeiro, quando há sol. Nem de noite se acaba. Um botão constantemente ligado. O filósofo da ave Minerva devia dormir bem. Não há alegria suficiente para deixar de pensar. Há até alguma alegria no pensar constante. Nas minhas passagens de nível, há um aviso de «pare, escute e pense» enquanto sou sucessivamente atropelada por comboios encomendados por mim. Há nevoeiro a maior parte dos dias. Ponho os óculos de sol. Os pássaros enervam-me com o seu chilrear. Pensar é o melhor dos meus sacrilégios. Um botão constantemente ligado.

Rita Roberto

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