sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Expiação


Nunca me quis expor em espaços públicos
Nunca me quis virar do avesso 
E que me vissem as costuras, os altos e baixos
Os hematomas, as cicatrizes
Ou que me vissem quando sou uma lagoa parada
Não quis falar sobre os sentimentos confusos 
Que variam de hora em hora, dia para dia, 
Mês para mês, de ano para ano. Enfim. 
Os pensamentos sempre saíram em catadupa
Talvez nunca me tenha sabido explicar bem
E as pessoas sempre me aborreceram 
Em determinada parte do caminho 
Nunca quis dizer que era isto ou aquilo
É engraçado como me canso
O cansaço dá-me para chorar 
Não percebo o que é que isso tem de engraçado.
Mas acho graça.
Sinto várias coisas 
Nem sempre abro a porta e entro
Fico só a ver, a observar-me
Deixo tudo na minha cabeça como uma sopa,
Não, talvez antes uma jardineira 
Uma paelha colorida
Mexo tudo com uma colher 
Nunca gosto do sabor quando provo
Falta sempre qualquer coisa
Fica sempre agridoce.
Ou é doce ou é salgado 
É a ocd do palato.
Ocd da escrita
Não posso considerar exposição
Não estou exposta 
Não está aqui ninguém
É a minha expiação
Sempre fui diferente
Falar nunca chegou por mais que dissesse
Preciso de vir aqui
Agarrar-me à parede e vomitar o que não pode ficar cá dentro
Transformar o coração em letras de computador
Separar a alma em parágrafos
Procriar ideias e fazer delas minhas filhas, 
Meus filhos
Cuidar para que cresçam saudáveis  
Sejam especiais e sigam felizes. 

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