sábado, 21 de dezembro de 2013




Conto as horas a passar
As pessoas a passar
O sol a passar
A noite a chegar
Eu continuo aqui
Nesta bolha
Continuo aqui
Como uma infeliz
A desejar um copo de vinho
De pé alto e balão
A desejar e a contar
Todas as coisas que não
Posso ter.
Hoje é o dia mais curto do ano
Não dou por ela
A noite chegou há muito
E eu só queria um copo de pé alto e balão
O meu corpo de pé
E a cabeça, um balão
A ser levado pelo vento
Por cima dos campos
Planícies alentejanas
A cabeça em balão
Pelo meio das nuvens
Dos pingos de chuva
Sinto falta da relva
Do cheiro da terra
Dos pés no chão
Da cabeça nas nuvens
Do fogo a queimar-me as faces
De olhar para ele
Através do copo de pé alto, do balão
Do cheiro dos animais
E o sol a queimar-me as costas
E a planta dos pés
A lua cor de laranja
Rebenta a bolha
Não quero mais
Quero para mim o mar
A espuma, o vento frio na cara
Quero vida
Não quero viver num plástico de bolhas
A saltar de bolha em bolha
A desejar um de vinho
De pé alto e balão.
Sei que mais tarde ou mais cedo
Vou fugir
Deixar tudo o que conquistei
Trocar tudo por um copo de vinho
De pé alto e balão
À beira-mar.

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