domingo, 22 de dezembro de 2013

Se fechar os olhos
Ainda consigo ver os três sentados à volta da mesa
Ouvir o que a rádio tocava
Os sofás castanhos, enrrugados, pele de pêssego
As janelas todas abertas para arejar
O sol que entrava pela janela da sala
O programa da vida selvagem na televisão 
As almofadas verdes, com folhos às flores
Às vezes queimava os joelhos nas alcatifas
As sestas, os sorrisos
Consigo sentir o cheiro da madeira a arder
Seria petróleo aquilo no jornal? 
Depois o cheiro a peixe que se espalhava 
Pela casa toda, misturado
Com o cheiro amargo de brócolos cozidos
O fumo que saía pelas panelas
As fitas para acabar o que tinha no prato
A campainha que tocava para o café
O conforto emocional
Durante anos achei que ia ser sempre assim 
Nada nem ninguém podia destruir aquilo 
Ainda consigo sentir aquela mão na minha perna
Quando fizemos a primeira viagem juntas
A dizer que ia correr tudo bem.
Ela estava feliz. Ele também.
Estavam os três. 

Sem comentários:

Enviar um comentário