domingo, 12 de abril de 2015

Migalhas

O que ficou em cima da mesa
Foram pensamentos
Deixados como migalhas
Tudo ali naquela confusão,
Mil bocadinhos
O que se fez quando não podia ser feito
O que não se fez quando devia ter sido feito
Parecem um espelho partido
Junto-as com os meus dedos
Prendem-se nas unhas
Não se querem soltar de mim
Faço desenhos com elas
Construo sonhos
Sopro-as,
Agarradas às minhas unhas
Formam todo um começar de novo
O final do que resta, do que ficou
A minha memória foi cortada às fatias
Antes destas migalhas ficarem esquecidas

Não consigo passar um pano e seguir
Respiro a melancolia que emanam
Como um vício
Que não consigo deixar
O silêncio destes mil bocadinhos
Prefiro enlouquecer
A viver sem elas,
A juntá-las repetidamente
Como se tivesse medo de perdê-las
Gosto de ser alimentada
Por estes restos
Descem pela minha boca
Como bolas de fogo
Aterram dentro de mim como borrões

A inteligência é demasiado cruel
Para quem a tem
As memórias são um piano em decadência
Não param de tocar
Umas vezes doces, outras lancinantes
As migalhas na mesa
São uma bênção
Aqueles mil bocadinhos
Ressuscitaram o que estava morto
Aqui dentro

E toda eu sou flores. 

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