O que ficou
em cima da mesa
Foram pensamentos
Deixados como
migalhas
Tudo ali
naquela confusão,
Mil
bocadinhos
O que se fez
quando não podia ser feito
O que não se
fez quando devia ter sido feito
Parecem um
espelho partido
Junto-as com
os meus dedos
Prendem-se
nas unhas
Não se querem
soltar de mim
Faço desenhos
com elas
Construo sonhos
Sopro-as,
Agarradas às
minhas unhas
Formam todo
um começar de novo
O final do
que resta, do que ficou
A minha
memória foi cortada às fatias
Antes destas
migalhas ficarem esquecidas
Não consigo
passar um pano e seguir
Respiro a
melancolia que emanam
Como um vício
Que não
consigo deixar
O silêncio
destes mil bocadinhos
Prefiro enlouquecer
A viver sem
elas,
A juntá-las
repetidamente
Como se
tivesse medo de perdê-las
Gosto de ser
alimentada
Por estes
restos
Descem pela
minha boca
Como bolas de
fogo
Aterram
dentro de mim como borrões
A
inteligência é demasiado cruel
Para quem a
tem
As memórias
são um piano em decadência
Não param de
tocar
Umas vezes doces,
outras lancinantes
As migalhas
na mesa
São uma bênção
Aqueles mil
bocadinhos
Ressuscitaram
o que estava morto
Aqui dentro
E toda eu sou
flores.
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